A Ponta do Coral, localizada na Av. Beira-Mar Norte, é uma das áreas mais cobiçadas de Florianópolis e carrega décadas de disputas, projetos grandiosos e histórias marcadas por polêmicas. Também conhecida como Ponta do Recife, é a última ponta natural da região central da cidade — outras foram aterradas ao longo do tempo para dar lugar a vias e carros.
A área possui um valor histórico e ambiental enorme. No século 18, fazia parte do sistema de defesa da ilha e pertencia à Marinha. No início do século 20, foi usada como ponto de abastecimento de óleo. A partir dos anos 40, virou o espaço do Educandário 25 de Novembro, abrigo de menores administrado pelo Estado até os anos 70. Depois, por pressões urbanas e decisões políticas, o local passou por novos ciclos de uso e abandono.
Nos anos 80, o terreno foi vendido pelo governo estadual sob o argumento de arrecadar recursos para projetos sociais. A venda, no entanto, até hoje levanta questionamentos, principalmente por ter sido seguida por um misterioso incêndio que destruiu o prédio do antigo abrigo.
A partir daí, a Ponta do Coral voltou ao centro de inúmeras discussões. Enquanto moradores, estudantes e ambientalistas reivindicavam o espaço como área pública de lazer e proteção ambiental, empresários apresentavam propostas para empreendimentos turísticos de grande porte.
Em 2010, o terreno ganhou os holofotes com a proposta do Parque Hotel Marina, um complexo de luxo com mais de 600 apartamentos, marina, estacionamentos e nove praças públicas. Orçado em cerca de R$ 330 milhões, o projeto previa até o aterramento de 35 mil metros quadrados de mar para instalação de áreas públicas e infraestrutura. A proposta dividiu opiniões. Parte da população via o projeto como um impulso econômico e turístico para a capital. Já ambientalistas e moradores defendiam o uso público da área e sua transformação em parque urbano.
O projeto gerou manifestações, protestos, abaixo-assinados e virou alvo do Ministério Público Federal. Licenças ambientais, estudos de impacto de trânsito e instabilidade jurídica marcaram a trajetória da proposta, que acabou sendo redimensionada ao longo dos anos. O aterro do mar foi descartado e o futuro do empreendimento passou a depender de decisões políticas e legais.
O local ainda abriga uma comunidade de pescadores artesanais, herança viva da relação entre a cidade e o mar. Embora o mar esteja poluído, a localização da Ponta do Coral é estratégica para a atividade pesqueira. Famílias resistem na região, mantendo seus ranchos em meio ao abandono do terreno, hoje tomado por ruínas, entulho e restos das antigas construções.
O Projeto do Parque Cultural das 3 Pontas surgiu como alternativa para devolver o espaço à população, criando áreas verdes, espaços culturais e de convivência. A proposta previa a continuidade do passeio da Praça República da Grécia – também conhecida como Koxixos – e reforça a importância de preservar o último pedaço de terra natural da Beira-Mar Norte.
Entre interesses públicos, planos privados e disputas legais, a história da Ponta do Coral continua em aberto. A área, avaliada judicialmente em R$ 120 milhões, é mais do que um terreno: é um símbolo da luta por uma cidade que respeite sua paisagem, sua história e seus cidadãos. Enquanto o destino definitivo não é selado, Florianópolis segue debatendo o futuro desse espaço tão cobiçado — e tão cheio de memórias.
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