O resgate de uma baleia-franca com um filhote na Praia da Pinheira, em Palhoça, que emocionou o país e viralizou nas redes sociais, agora está no centro de uma polêmica. O grupo de fotógrafos que registrou o momento afirmou que o homem que se apresenta como o autor do salvamento (Robin Hood do Mar) não participou da ação — e ainda denunciou o uso indevido da situação para arrecadar dinheiro com supostas vaquinhas virtuais.
LEIA TAMBÉM:
Em Palhoça, “herói” salva baleia na Praia da Pinheira e pode ser punido
Segundo o fotógrafo Carlos Anselmo, que atua na região e representou o grupo em um pronunciamento, a verdadeira intervenção ocorreu no sábado (12) e foi feita com cautela por uma pessoa do próprio grupo, que já vinha acompanhando a baleia havia dias. A baleia estava presa a uma rede de pesca na região da cabeça e vinha sendo monitorada à distância por órgãos ambientais, que decidiram não agir de imediato, considerando que a rede não comprometia os comportamentos naturais do animal e poderia se soltar com o tempo.
LEIA TAMBÉM:
Baleia-franca com filhote presa a rede é resgatada na Praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça
Apesar da orientação oficial, diante do sofrimento do animal e da longa exposição à rede, uma intervenção pontual foi feita. De forma silenciosa, com uma prancha de stand-up paddle e uma ferramenta adaptada, o enrosco foi retirado em poucos segundos. A baleia seguiu nadando com o filhote, sem ferimentos visíveis, em aparente alívio.
O grupo afirma que a pessoa que aparece publicamente como “herói da baleia”, dizendo ter realizado o resgate e relatando ter vendido a prancha usada, não faz parte da equipe envolvida no ato e não foi a responsável pela soltura. Eles ainda reforçam que, diante da repercussão e de relatos de arrecadações falsas sendo feitas para supostamente ajudar o homem a pagar uma eventual multa ambiental, resolveram vir a público.
“Não foi ele”, afirmou Carlos, ao destacar que o grupo está incomodado com o rumo que a história tomou. Ele prometeu divulgar um vídeo completo do resgate, com imagens inéditas e claras da ação verdadeira. Segundo ele, esse material encerrará de vez as dúvidas: “um vídeo que não terá mais como voltar atrás”.
Na manhã desta quarta (16), foi publicada uma nota de esclarecimento nas redes do grupo. O texto explica que o resgate foi feito com base no bom senso diante de um caso emergencial, e que o Código Brasileiro permite exceções à exigência de autorização prévia quando há risco imediato à vida animal. A nota também afirma que não houve qualquer intenção de autopromoção ou lucro, e que a ação foi feita com responsabilidade.
Veja na íntegra a nota de esclarecimento:
“Na data de 12/07, um cidadão, de forma cuidadosa e pontual, retirou uma rede de pesca que estava presa à cabeça de uma baleia-franca (Eubalaena australis), espécie ameaçada de extinção que migra todos os anos para o sul do Brasil para ter seus filhotes.
A baleia estava sendo monitorada por órgãos ambientais, mas já carregava a rede há dias. Por precaução, os técnicos optaram por não intervir diretamente. No entanto, diante do risco à saúde e ao bem-estar do animal, a pessoa se aproximou de forma segura e silenciosa com seu stand-up paddle e, com o auxílio de uma ferramenta preparada, conseguiu retirar a rede em poucos segundos. O animal seguiu livre com seu filhote, sem nenhum ferimento, demonstrando alívio imediato.
Vale lembrar que, embora o manuseio de fauna silvestre normalmente exija autorização dos órgãos competentes, o nosso ordenamento jurídico prevê exceções em casos de emergência e estado de necessidade, como este. Ninguém agiu por curiosidade, vaidade ou lucro. Houve apenas uma resposta humana, ética e urgente diante do sofrimento de um ser vivo – que, inclusive, divide o ambiente com o ser humano, habituada com a presença de surfistas, por exemplo.
A ação não só evitou complicações à saúde da baleia, como também refletiu o cuidado que precisamos ter com as espécies que compartilham o oceano conosco. Que esse episódio sirva de inspiração — e não de punição — para que cada vez mais pessoas se conectem com a natureza e ajam com empatia e responsabilidade com todos os seres.”
Enquanto isso, o homem que se declarou como o autor do resgate voltou às redes visivelmente abalado. Ele afirma estar sofrendo ameaças e relatou crises de ansiedade. Diz que não teria exposto sua identidade se não estivesse convicto de que foi ele quem salvou a baleia. Também teme ser alvo de punições por parte das autoridades ambientais.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) confirmou que o caso está sendo investigado. A legislação brasileira exige que o desmalhe de grandes cetáceos seja feito apenas por profissionais habilitados, com treinamento específico, embarcações adequadas e autorização prévia. A intervenção, mesmo bem-intencionada, é considerada de alto risco.
De acordo com o Ibama, a rede que estava presa na baleia era leve e não representava ameaça à sua saúde. A avaliação técnica indicava que o atrito natural com as calosidades da cabeça da baleia poderia fazer com que a rede se soltasse sozinha. Por isso, optou-se apenas pelo monitoramento, sem intervenção direta.
LEIA TAMBÉM:
Ibama acompanha de perto caso de baleia-franca com filhote em Palhoça
A baleia e o filhote haviam sido avistados desde o dia 10 na região da Praia da Ponta do Papagaio, também em Palhoça. A presença deles era acompanhada por drones e equipes do Projeto ProFRANCA e do Projeto Australis. O monitoramento ocorreu até o momento da libertação.
O caso, que inicialmente uniu o país em torno de um gesto de compaixão, agora está mergulhado em dúvidas, questionamentos e conflitos. O vídeo com a versão oficial do grupo ainda não foi divulgado, e o Ibama continua a apuração sobre a conduta de quem interveio sem autorização.
A única certeza, até agora, é que a baleia e seu filhote estão livres. E que, no rastro da rede de pesca, ficaram também enredados sentimentos humanos, controvérsias e a difícil tarefa de separar a verdade da comoção.
Ver essa foto no Instagram
Compartilhe essa informação com quem precisa saber!
Entre na comunidade do AGORA FLORIPA e receba informações gratuitas no seu Whatsapp!