A Câmara de Vereadores de Florianópolis aprovou, nesta segunda-feira (14), a revogação de uma antiga homenagem concedida à Scuderie Le Cocq, uma organização paramilitar que atuou como grupo de extermínio e é considerada uma das precursoras das milícias no Brasil. A decisão foi tomada por maioria simples, com 12 votos favoráveis entre os 23 vereadores da capital. Os outros 11 parlamentares não registraram seus votos na sessão.
A revogação anula a Lei nº 2274, sancionada em 1985, que declarava a Scuderie Le Cocq como entidade “de utilidade pública” em Florianópolis. Na época, a justificativa era de que a organização promovia o “aperfeiçoamento moral, intelectual e físico” de seus membros. A sede ficava na Rua Santo Saraiva, no bairro Estreito, região continental da cidade.
Apesar da descrição oficial, documentos e investigações ao longo das décadas revelaram o verdadeiro papel da entidade: uma rede clandestina de execuções que unia advogados, juízes, promotores, políticos e policiais em ações ilegais, principalmente no Rio de Janeiro. Estima-se que o grupo tenha sido responsável por mais de mil assassinatos.
Criada em 1965, a Scuderie Le Cocq surgiu como reação à morte do detetive Milton Le Cocq, executado pelo criminoso conhecido como Cara de Cavalo. Em vingança, policiais mataram o suspeito com mais de cem tiros e deixaram seu corpo coberto com um cartaz de caveira — símbolo que viria a representar a organização.
O nome da Scuderie voltou aos holofotes após se confirmar que Ronnie Lessa, autor confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco, foi integrante da entidade. Ele ingressou na Scuderie aos 18 anos, em 1989, antes mesmo de iniciar sua carreira oficial na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Lessa também foi apontado como um dos líderes do chamado “Escritório do Crime”, grupo criminoso formado por agentes de segurança e milicianos, que atuou por décadas no estado do Rio.
A Scuderie Le Cocq foi formalmente extinta em dezembro de 2004 por decisão judicial, que determinou sua dissolução e a proibição do uso de seu nome e símbolos. Ainda assim, o título de utilidade pública em Florianópolis permaneceu vigente por quase quatro décadas, até ser revogado agora.
A aprovação do projeto de lei que revoga essa homenagem representa uma correção histórica para a capital catarinense, encerrando oficialmente qualquer vínculo com uma organização ligada à violência, à execução sumária e à formação de agentes envolvidos em crimes que marcaram o país.
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