Na manhã desta quarta-feira (26), Florianópolis foi palco de uma audiência pública que escancarou os desafios enfrentados pela população LGBTQIA+ no acesso e permanência no mercado de trabalho. O encontro, promovido pelo Ministério Público do Trabalho, lotou o auditório da Procuradoria Regional do Trabalho da 12ª Região e reuniu vozes potentes da sociedade civil, instituições públicas, ativistas, universidades e parlamentares.
O foco foi claro: trazer dados, depoimentos e propostas concretas para mudar a realidade de exclusão que afeta especialmente pessoas trans. O Brasil ainda ocupa o vergonhoso posto de país que mais mata pessoas trans no mundo, com uma expectativa de vida que gira em torno da metade da média nacional. E não é só a violência física que marca essa trajetória — a exclusão começa dentro de casa, passa pela escola e se prolonga no ambiente de trabalho.
Um dos relatos mais marcantes foi o de Beatrice da Silva Bento, Miss Universo Trans Brasil 2024, que atua em cargo de liderança em uma multinacional. Ela ressaltou que o problema não está na falta de qualificação, e sim na ausência de oportunidades: “Existem muitas pessoas trans preparadas, mas elas sequer conseguem passar da fase do currículo”.
Outro destaque foi o depoimento do advogado Teodoro da Silva Bergmann, homem trans, que contou como sua identidade, quando revelada, muda o tratamento recebido até em ambientes jurídicos. “Se comigo isso acontece, imagina com quem não teve acesso à educação superior?”, questionou.
Ao longo da audiência, representantes de coletivos, ONGs e instituições denunciaram a invisibilidade institucional. Faltam dados oficiais, faltam políticas públicas, faltam conselhos municipais LGBTQIA+ fora da capital e falta ação concreta do Estado. Relatos de evasão escolar por bullying, ausência de capacitação e violência institucional mostraram como o ciclo de exclusão se perpetua, muitas vezes em silêncio.
Entre os relatos emocionantes, esteve o de Walleria Suri, mulher trans e deficiente visual, que perdeu tudo ao se assumir — emprego, moradia, amizades — mas reafirmou que ganhou sua identidade. Em outro momento, uma mulher trans e autista revelou ter sofrido retaliações dentro de um órgão público após denunciar um caso de assédio: “Foi a morte simbólica dos meus sonhos”.
Apesar da gravidade das situações expostas, o encontro também trouxe caminhos possíveis. A UDESC anunciou que está em tramitação um projeto de ações afirmativas que inclui a população LGBTQIAPN+. Representantes do MPT reforçaram que qualquer pessoa pode denunciar discriminação por meio do site oficial, de forma anônima ou identificada. E uma nova audiência pública, voltada especificamente para empresas e empregadores, já está sendo planejada.
Parlamentares presentes também cobraram mais atuação da iniciativa privada e das entidades patronais, e pediram mais articulação por parte do Governo do Estado.
O evento termina como um marco no debate sobre empregabilidade LGBTQIA+ em Santa Catarina. Mais do que reunir falas potentes, a audiência pública em Florianópolis evidenciou um choque de realidade: ainda há muito a ser feito para garantir que a diversidade tenha espaço, respeito e dignidade no ambiente profissional. O recado foi dado — o trabalho começa agora.
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