A decisão sobre a possível mudança de nome do campus da UFSC na Trindade, em Florianópolis, foi adiada após um pedido de vista feito por um conselheiro durante a sessão do Conselho Universitário (CUn), realizada nesta sexta-feira, 13 de junho. A nova data para a deliberação está marcada para terça-feira, 17, e o tema segue gerando intensa mobilização na comunidade acadêmica e fora dela.
O debate gira em torno da permanência ou não do nome João David Ferreira Lima, ex-reitor da UFSC, no campus-sede da universidade. A proposta de retirada do nome é baseada nas conclusões do relatório final da Comissão Memória e Verdade (CMV) da própria instituição, elaborado entre 2013 e 2018. O documento aponta que Ferreira Lima teria colaborado com o regime militar, contribuindo para a repressão dentro do ambiente universitário, com denúncias que teriam resultado em perseguições, prisões e até torturas a professores, alunos e servidores.
A sessão desta sexta-feira foi marcada por uma intensa participação da comunidade acadêmica, incluindo estudantes, docentes, servidores, além de familiares de vítimas da ditadura militar. O encontro ocorreu no Auditório Garapuvu e foi transmitido ao vivo, refletindo o peso simbólico da discussão.
Antes do pedido de vista, foram apresentadas falas contundentes de ambos os lados. De um lado, defensores da mudança do nome destacaram documentos que revelariam a participação ativa ou omissa do ex-reitor em ações repressivas, como o envio de informações ao Serviço Nacional de Informações (SNI) e a instalação de comissões internas para perseguir opositores do regime.
Já os defensores da manutenção do nome afirmaram que Ferreira Lima agiu sob coerção em um contexto de forte repressão, e que as provas apresentadas não seriam suficientes para condená-lo. Argumentam que ele teve papel relevante na construção da UFSC e que a remoção de seu nome apagaria sua contribuição institucional.
O parecer apresentado pelo relator do processo no CUn foi favorável à retirada do nome, propondo que o campus seja denominado apenas como “Campus Universitário localizado no Bairro Trindade, em Florianópolis”, sem substituição imediata.

A discussão ganhou ainda mais força com os relatos emocionados de familiares de professores perseguidos durante a ditadura. Eles narraram os impactos das ações repressivas da época na vida pessoal e profissional de seus parentes, muitos deles reconhecidos por sua contribuição acadêmica e resistência política.
Enquanto o impasse segue, cresce a expectativa sobre o desfecho do processo. A próxima sessão promete ser decisiva, e deve contar novamente com forte presença da comunidade universitária e da sociedade civil. O resultado da votação será mais do que simbólico: representará uma tomada de posição da UFSC sobre como lidar com sua própria história e com os legados deixados pelo regime militar.
A UFSC, com sede em Florianópolis e reconhecida nacionalmente por seu papel na formação crítica e democrática, vive agora um momento importante de reflexão institucional. A decisão sobre o nome do campus da Trindade vai além da simples nomenclatura: trata-se de afirmar valores, rever o passado e definir que memória a universidade deseja preservar.

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