O gesto que emocionou milhões nas redes sociais pode agora resultar em punição. O homem que apareceu em um vídeo resgatando uma baleia presa em uma rede de pesca, na Praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça, na Grande Florianópolis, está sendo investigado pelo Ibama. A ação, realizada no último sábado (12), ganhou repercussão nacional e já soma mais de 6,3 milhões de visualizações. Mas, mesmo com boa intenção, o ato pode render uma multa de R$ 2,5 mil.
O resgate aconteceu quando a baleia-franca, que nadava com um filhote, foi vista enroscada em uma rede de pesca. O homem, em cima de uma prancha de stand-up paddle, conseguiu se aproximar e cortar o material. O momento foi registrado por um grupo de fotógrafos e viralizou pela delicadeza da ação. No entanto, uma portaria conjunta do Ministério do Meio Ambiente, Ibama e ICMBio determina que apenas equipes treinadas, com embarcação adequada e autorização oficial, podem realizar esse tipo de intervenção.
Segundo essa norma, qualquer tentativa fora dessas condições é considerada infração ambiental, mesmo quando motivada por compaixão. A legislação ambiental considera esse tipo de conduta como “molestamento intencional” da fauna silvestre. Isso significa que a prática, mesmo sem danos aparentes, pode ser penalizada — especialmente quando não segue os protocolos definidos.
O objetivo da norma é proteger não apenas os animais, mas também as pessoas. O resgate de uma baleia, por mais heroico que pareça, envolve riscos. Sem capacitação, a aproximação pode gerar estresse no animal ou resultar em acidentes. Além disso, a portaria exige que toda a operação seja registrada, documentada e comunicada ao ICMBio em até 30 dias, com identificação da rede e sua origem.
A baleia resgatada faz parte de uma população que anualmente escolhe o litoral catarinense como refúgio para reprodução. Entre julho e novembro, dezenas de baleias-francas e seus filhotes são avistados entre Garopaba e Imbituba, dentro da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca. Esse espaço é vital para a sobrevivência da espécie e, por isso, tem restrições específicas quanto à pesca e à navegação.
A temporada de 2025 já havia começado mais cedo do que o esperado, com 85 baleias avistadas em maio. As chamadas “redes fantasmas” — deixadas no mar de forma irregular — são uma das maiores ameaças à vida desses animais. O caso na Pinheira reacendeu o debate sobre esse tipo de rede e a responsabilidade dos pescadores em recolhê-las corretamente.
Agora, o homem que protagonizou o salvamento aguarda a definição do Ibama. Embora o gesto tenha sido celebrado, a lei ambiental brasileira é clara ao exigir que esse tipo de intervenção seja feita apenas por profissionais credenciados. A investigação segue, e o desfecho ainda não foi anunciado. O que fica, por enquanto, é a imagem de uma baleia livre no mar — e a discussão sobre até onde vai a linha entre compaixão e regra.
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