A Justiça de Santa Catarina condenou um corretor de imóveis a 18 anos e seis meses de prisão por montar e vender, de forma clandestina, um verdadeiro bairro no Norte da Ilha, em Florianópolis. Segundo a decisão, Gilvã Guimarães da Silva, junto com familiares, comercializou cerca de mil lotes no bairro Rio Vermelho, movimentando mais de R$ 20 milhões entre 2018 e 2024.
De acordo com a sentença, o grupo abriu ruas em áreas de Mata Atlântica com retroescavadeiras, desmatou ilegalmente, construiu casas sem autorização, e instalou energia elétrica de forma clandestina. A área ocupada chega a meio milhão de metros quadrados. A Justiça classificou a operação como um dos maiores crimes urbanísticos da história da capital catarinense.
A forma de atuação chamava atenção: os terrenos variavam de R$ 65 mil a R$ 200 mil e eram vendidos com a promessa de que seriam regularizados rapidamente. Pelo menos 21 pessoas foram identificadas como vítimas diretas do golpe. O corretor e seus familiares diziam que bastava pagar o IPTU para que o terreno fosse legalizado — o que nunca aconteceu.
O dinheiro arrecadado com os lotes era pulverizado em pequenas parcelas para dificultar o rastreamento. Um débito de R$ 50 mil, por exemplo, era dividido em mais de 20 parcelas de R$ 2 mil ou R$ 3 mil, prática conhecida como “smurfing”. Os valores passavam por empresas de fachada, como um posto de gasolina que, na prática, sequer existia — no local informado como sede da empresa, havia apenas terra e uma árvore.
Outro nome envolvido na lavagem de dinheiro foi a “Jazida Guimarães”, uma suposta empresa de mineração que nunca operou. O dinheiro era reinvestido em bens de alto valor, como carros de luxo e motos aquáticas, todos confiscados pela Justiça. Ao todo, a sentença determina a perda de 13 veículos e embarcações, além do pagamento de multas superiores a 600 salários mínimos.
A operação que desmantelou o esquema ficou conhecida como “Acapulco”, em alusão ao padrão de vida dos envolvidos. Apesar da gravidade dos crimes, a defesa de Gilvã contesta a condenação, alegando ausência de dolo e dizendo que nenhum comprador formalizou queixa criminal contra o grupo. A decisão judicial ainda cabe recurso.
Gilvã e sua esposa devem cumprir pena em regime fechado, enquanto os irmãos dele, também condenados, seguirão em regime semiaberto. O caso chama atenção não apenas pela cifra milionária envolvida, mas pelo impacto ambiental e social provocado na região.
O bairro Rio Vermelho, localizado entre áreas de preservação e praias frequentadas por moradores e turistas, foi parcialmente transformado por uma ocupação ilegal e estruturada à margem das regras urbanísticas da cidade. A Justiça agora tenta reverter parte dos danos causados — e evitar que histórias semelhantes se repitam na capital catarinense.
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