A realidade das pessoas em situação de rua na Grande Florianópolis ganhou um retrato detalhado a partir de um levantamento feito com base em dados do Cadastro Único (CadÚnico). Até março deste ano, cerca de 4.500 pessoas viviam nas ruas de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. O estudo revelou não apenas o número crescente, mas também o perfil e os principais motivos que levaram esses cidadãos a essa condição.
O principal fator apontado pelas próprias pessoas em situação de rua foi o desemprego, citado por 52% dos entrevistados. Problemas familiares (32%) e o uso de álcool e outras drogas (20%) também aparecem como causas frequentes.
A maioria é formada por homens (87,33%), com idades entre 30 e 39 anos (29,86%) e de etnia branca (58,16%). Apesar das dificuldades atuais, quase todos frequentaram a escola em algum momento da vida — 95,98% relataram ter passado por instituições de ensino, e mais de 94% afirmaram saber ler. No entanto, atualmente estão distantes da rede educacional e, em muitos casos, também da família: mais de 32% não têm nenhum contato com parentes, enquanto outros 23,82% mantêm contato raro.
Outro dado que chama atenção é que 50,36% das pessoas nessa situação estão nas ruas há até seis meses, conforme os registros mais recentes do CadÚnico. Isso indica que a chegada à rua, para muitas delas, é recente, o que pode estar relacionado a mudanças recentes no mercado de trabalho e ao agravamento da vulnerabilidade social.
O levantamento também avaliou as condições da rede de apoio disponível para essa população nas cidades da região metropolitana. Em Florianópolis, que concentra a maior parte das pessoas em situação de rua — 3.678 —, foi identificada como principal deficiência a ausência de um CAPS AD III, serviço especializado no atendimento a pessoas com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
Em São José e Biguaçu, os Centros POP — que prestam atendimento específico à população em situação de rua — não têm equipes mínimas para funcionar adequadamente. Já em Palhoça, não existe sequer uma unidade desse tipo. Esses centros são fundamentais para oferecer acolhimento, encaminhamentos e serviços básicos como alimentação, higiene e escuta social.
A análise também se estendeu a outras regiões de Santa Catarina. Ao todo, 13 cidades foram avaliadas, reunindo juntas mais de 11 mil pessoas em situação de rua até março de 2025. Florianópolis, Joinville e Itajaí lideram em números absolutos, com 3.678, 963 e 783 registros, respectivamente.
A principal fragilidade observada em todo o estado é a falta de estrutura adequada nos serviços móveis, como os Consultórios na Rua, e a ausência de comitês responsáveis por acompanhar políticas públicas para essa população, como o CIAMP.
Com base nesse diagnóstico, recomendações específicas serão encaminhadas aos municípios para melhorar a estrutura de atendimento, fortalecer a articulação entre os serviços e garantir o acesso aos direitos básicos dessas pessoas. Também estão previstas campanhas de informação para reduzir o preconceito e aproximar a sociedade da realidade enfrentada por quem vive nas ruas.
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