Na Colônia Agroindustrial de Palhoça, na Grande Florianópolis, o que se vê não é apenas uma rotina de privação de liberdade, mas uma verdadeira engrenagem de reconstrução de vidas. Em um cenário onde a média nacional de presos trabalhando é de 23%, a unidade catarinense se destaca com 62% dos internos ocupados em atividades laborais — um número que reflete não só produtividade, mas também transformação.
Hoje, dos 612 detentos sob custódia, 374 estão envolvidos diretamente com trabalho, seja dentro ou fora dos muros da unidade. Entre as principais atividades estão a construção naval, a marcenaria e convênios com empresas da região, que oferecem aos internos uma rara chance de aprender uma profissão e ganhar dignidade por meio do esforço.
Uma das parcerias mais consolidadas ocorre com uma empresa do ramo náutico, que desde 2018 ensina os apenados a construírem cascos de barcos em uma linha de produção que exige precisão, paciência e trabalho em equipe. Já a marcenaria da colônia, inaugurada em 2021, tem como destino social a fabricação de móveis doados para escolas, hospitais, asilos e creches, beneficiando diretamente a comunidade.
O modelo adotado em Palhoça é agroindustrial, com foco em capacitação profissional, disciplina e ressocialização real. A proposta é clara: oferecer uma alternativa concreta ao ciclo do crime. Muitos internos chegam à unidade sem nunca terem tido um emprego formal. Lá dentro, encontram não só ocupação, mas um novo sentido para o tempo de pena. E a cada três dias trabalhados, um dia é descontado da sentença — a chamada remição de pena.
Além do ganho pessoal e social, as empresas também saem beneficiadas. Em Santa Catarina, mais de 220 convênios já foram firmados com prefeituras, órgãos públicos e instituições privadas, oferecendo desde serviços de costura até montagem de eletrônicos. As empresas recebem mão de obra treinada e acompanhada pelo Estado, e os internos têm a chance de sair da prisão com um ofício — e muitas vezes, já empregados.
Os resultados dessa política vão além das estatísticas. A principal métrica de sucesso está na redução da reincidência criminal, na formação profissional sólida e na reinserção social efetiva. Em unidades como a de Palhoça, o impacto é visível: mudanças de comportamento, autoestima elevada e um novo olhar sobre o futuro.
O desafio agora é ampliar essas oportunidades, multiplicar parcerias e, principalmente, mudar a mentalidade da sociedade quanto à reintegração. Afinal, abrir portas para quem busca recomeçar é também um ato de cidadania e de construção coletiva de segurança e dignidade. Palhoça mostra que, com trabalho, é possível romper ciclos e construir caminhos melhores — mesmo dentro de um sistema prisional.
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