O que há em comum entre a pesquisa espacial da Nasa e o campo agrícola de Santa Catarina? A resposta agora está em Florianópolis. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) inaugurou, no fim de 2024, um laboratório que utiliza a mesma tecnologia que o robô Perseverance usa para analisar o solo em Marte.
Trata-se do Laboratório Multiusuário de Agro-Fotônica (Lamaf), localizado no Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), no campus da UFSC na capital. O espaço une ciência de ponta com inovação prática para beneficiar a agropecuária e o meio ambiente em Santa Catarina — e o destaque vai para a técnica LIBS (Espectroscopia de Emissão Óptica com Plasma Induzido por Laser), a mesma utilizada pela agência espacial norte-americana.
Com um laser de alta potência, a LIBS gera um plasma na superfície da amostra e detecta todos os componentes químicos presentes. O processo é rápido, preciso e não depende de reagentes químicos, o que o torna sustentável. A técnica é capaz de identificar fertilizantes, minerais e até resíduos como vidro e cimento — tudo isso a partir de pequenas porções de terra ou grãos prensados. É a primeira vez que um equipamento com essa tecnologia está disponível em Santa Catarina.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Centro de Ciências Agrárias (CCA) e o Departamento de Física da UFSC, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (Fapesc). O laboratório foi idealizado para atender especialmente o setor agropecuário, que responde por 64% das exportações catarinenses e por 30% do PIB estadual, conforme a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de SC (Cidasc).
No Lamaf, a análise de solos, líquidos e vegetais pode ser feita com rapidez e alta precisão, contribuindo para o aumento da produtividade e da sustentabilidade nas cadeias de hortaliças, suínos e aves. Os dados gerados auxiliam na verificação da fertilidade do solo, na detecção de contaminantes e no combate a doenças nas plantações — o que pode evitar prejuízos no campo e melhorar o desempenho ambiental.
Além da LIBS, o laboratório conta com mais duas tecnologias de ponta: a Tomografia de Coerência Óptica (OCT) e a Espectroscopia Raman. A OCT é ideal para examinar materiais orgânicos maiores, como folhas e frutos, e permite gerar um mapa tridimensional por meio da luz, revelando até sinais precoces de doenças nas plantas. Já o espectrômetro Raman permite analisar líquidos com alta sensibilidade.
As três tecnologias, aliadas à inteligência artificial, fazem do Lamaf um espaço único e versátil. O laboratório atende pesquisadores de diferentes áreas — da Física à Engenharia Rural, da Odontologia à Engenharia Mecânica — e está à disposição tanto de instituições públicas quanto privadas. Órgãos como Epagri, Embrapa e Instituto do Meio Ambiente (IMA) já podem se beneficiar da estrutura para monitorar impactos ambientais, realizar licenciamentos e planejar ações de sustentabilidade.
Multidisciplinar desde sua criação, o Lamaf também contribui com a formação de estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC, especialmente nos programas de Física e Agroecossistemas. A calibragem dos equipamentos, por exemplo, é realizada com apoio de alunos e professores da universidade, garantindo o domínio técnico das novas ferramentas.
Com uma proposta alinhada à Química Verde e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o laboratório mostra como a ciência feita em Florianópolis pode transformar a agricultura catarinense — e como a UFSC está conectada com o que há de mais avançado no mundo, inclusive com a tecnologia usada pela Nasa para explorar o solo de outro planeta.




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