A discussão sobre uma possível mudança no nome do campus Trindade da UFSC, em Florianópolis, foi adiada após mais de quatro horas de reunião intensa na tarde desta terça-feira (29). O debate, que aconteceu no auditório da reitoria, girou em torno da permanência ou não do nome do ex-reitor João David Ferreira Lima, acusado de colaboração com a ditadura militar nos anos 1960.
O Conselho Universitário da UFSC se reuniu a partir das 14h, mas só encerrou os trabalhos às 18h33, sem chegar a uma definição. A decisão foi adiada para uma nova sessão, marcada para a próxima terça-feira (6), às 14h, também no campus Trindade. Três pessoas que ainda estavam inscritas para falar, incluindo um familiar do ex-reitor, terão espaço na próxima reunião.
A controvérsia teve início em 2018, quando a Comissão Memória e Verdade da universidade apontou, em relatório, que João David Ferreira Lima — reitor entre 1962 e 1972 e figura importante na criação da UFSC — teria colaborado com o regime militar, participando de perseguições a estudantes, professores e servidores. O documento recomendou a retirada de homenagens ao ex-reitor, como o nome do campus Trindade e a estátua localizada na Praça da Cidadania.
A partir dessas recomendações, surgiu um processo interno de análise no Conselho Universitário, que resultou em um parecer apresentado nesta terça-feira. O relator do processo considerou que o relatório da Comissão Memória e Verdade tem valor histórico e memorialístico, e que não há embasamento suficiente para invalidá-lo. Porém, ele destacou que não existe uma legislação interna específica para a mudança do nome de campi, sugerindo que esse mecanismo seja criado antes de qualquer deliberação.
A reunião foi marcada por protestos de estudantes, que exigiram que a sessão fosse aberta ao público. Inicialmente prevista para ocorrer em uma sala restrita do Conselho Universitário, a reunião acabou sendo transferida para o auditório da reitoria, que ficou completamente lotado. Estudantes exibiram cartazes com fotos de pessoas perseguidas durante a ditadura militar e pediram justiça e memória.
Durante a sessão, a advogada da família Ferreira Lima contestou a legalidade dos processos que vêm sendo conduzidos desde o relatório de 2018. Ela argumentou que não foram respeitados os princípios da ampla defesa e que houve participação de integrantes que já atuaram na própria Comissão Memória e Verdade. A família do ex-reitor vê as medidas como uma tentativa de apagar sua contribuição para a história da universidade.
Com o tempo esgotado e muitas dúvidas em aberto, os conselheiros optaram por não tomar uma decisão imediata. O relator também indicou que fará revisões em seu parecer, que serão discutidas na próxima sessão.
A nova reunião, que pode definir o futuro do nome do principal campus da UFSC em Florianópolis, promete mais debates e manifestações. O local exato do encontro ainda será confirmado.
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