A reportagem exclusiva do portal Agora Floripa mostra um vídeo que circula por grupos, gravado no Centro de Florianópolis, que está gerando repercussão e muito debate ao mostrar abordagens feitas a pessoas em situação de rua. Nas imagens, os entrevistados respondem se recebem o benefício Bolsa Família e se já tiveram passagens pela prisão.
As pessoas que aparecem nas gravações afirmam receber R$ 600 mensais de Bolsa Família. Um homem relatou ter recebido, em determinado mês, R$ 600 e, em outro, R$ 710 devido ao adicional do auxílio gás. Ao ser questionado pelo interlocutor sobre viver nas ruas mesmo recebendo o valor, ele respondeu de forma direta: “mas o governo paga”.
Outro entrevistado afirmou estar no programa Bolsa Família há cerca de 10 anos. Durante as conversas, também surgiram respostas relacionadas à vivência nas ruas e ao histórico pessoal de cada um, incluindo perguntas sobre prisões anteriores.
O registro mostra diferentes realidades e histórias de quem vive nas ruas do Centro da cidade, revelando a relação entre o recebimento de benefícios sociais e as condições de vida enfrentadas diariamente por essas pessoas.
Visões opostas sobre o vídeo em Florianópolis
O vídeo mostrando a abordagem a pessoas em situação de rua na capital catarinense reacendeu o debate sobre o tema e gerou manifestações de representatividades com visões divergentes.
De um lado, o ex-secretário de Assistência Social de Florianópolis, Bruno Souza, avaliou que as imagens confirmam uma realidade já conhecida por profissionais que atuam diretamente com essa população. Segundo ele, a maioria dos que vivem nas ruas seriam dependentes químicos e, em grande parte, beneficiários do programa Bolsa Família. Para o ex-gestor, o benefício teria perdido o papel de transição para uma vida diferente, sendo entregue sem exigências como adesão a tratamento ou compromisso com a saída das ruas. Ele também destacou que, nas abordagens acompanhadas durante sua gestão, era comum encontrar pessoas com múltiplos registros policiais, envolvendo crimes como furtos, tráfico e até homicídios. Na sua avaliação, o problema não teria origem principalmente econômica, mas estaria ligado a questões de dependência química e criminalidade, defendendo uma mudança na forma como o município lida com o assunto.

Em nota oficial exclusiva ao portal Agora Floripa explicou Bruno Souza:
O recente vídeo de abordagem a moradores de rua não revela nada de novo para quem lida com o tema de forma realista, sem lentes ideológicas. Ele apenas confirma o que todos que trabalham de verdade com essa população já sabem: em 99% dos casos, trata-se de dependentes químicos. E, na esmagadora maioria, essas pessoas são beneficiárias do Bolsa Família.
O problema é que o programa, há muito tempo, deixou de ser uma ponte para uma vida diferente. Para quem vive nas ruas, o benefício chega sem qualquer contrapartida — nem adesão a tratamento, nem compromisso de tentar sair da situação. O resultado é previsível: permanecem anos no programa e nas ruas, com a dependência química sendo, de fato, financiada pelo Estado.
O vídeo também expõe outra verdade incômoda, mas conhecida por todos que atuam nessa área: dificilmente alguém em situação de rua não tem antecedentes criminais. A maioria absoluta já foi fichada e tem passagens pela polícia. Em alguns casos, acompanhei pessoalmente abordagens de pessoas com 50, 60 ou até 70 registros policiais. Os crimes mais comuns são furto e tráfico, mas não é raro encontrar também homicidas.
Tenho denunciado isso há muito tempo. Quando fui secretário, tentei alterar a cartilha da Prefeitura de Florianópolis para enfrentar o problema com seriedade. Mas a gestão municipal segue refém de uma narrativa ideológica de esquerda, que romantiza a rua e insiste na falsa tese de que o motivo central é a “falta de oportunidade”. Termos como “humanização” e “acolhimento”, repetidos como mantras, partem desse diagnóstico equivocado.
O problema não é econômico — essa é uma falácia conveniente. É químico. E também é criminal. Enquanto insistirmos na mentira, vamos continuar desperdiçando recursos públicos, perpetuando o sofrimento e lotando nossas calçadas.
Em contraponto, a vereadora de Florianópolis, Carla Ayres (PT-SC), ressaltou que o Bolsa Família é reconhecido mundialmente como um programa de sucesso no combate à fome e na distribuição de renda, inclusive inspirando políticas em outros países. Ela reforçou que pessoas em situação de rua têm direito de serem incluídas no Cadastro Único e receberem o benefício. Para a parlamentar, no entanto, o Bolsa Família é apenas uma das medidas necessárias para promover a reinserção social, e cabe a estados e municípios implementarem ações complementares. Ela criticou o que considera uso de violência contra essa população e o desmonte de políticas públicas locais, citando o fechamento de equipamentos como o Restaurante Popular. Também mencionou a apresentação de um pedido de CPI para investigar contratos da Secretaria de Assistência Social. Sobre o fato de pessoas no vídeo relatarem passagens pela polícia, ela defendeu que isso não significa que estejam em dívida com a Justiça, afirmando acreditar na possibilidade de ressocialização por meio de oportunidades de qualificação, emprego e renda.

Disse a parlamentar a reportagem exclusiva do portal Agora Floripa:
Em relação ao vídeo veiculado pelo Agora Floripa, é importante destacar que o Bolsa Família é o mais exitoso programa de distribuição de renda e combate à fome da história do Brasil. O sucesso do Bolsa Família é reconhecido em todo o mundo, inspirando políticas semelhantes em diversos países. As pessoas em situação de rua têm assegurado o seu direito à inclusão no CadÚnico e à obtenção do benefício. É importante salientar, entretanto, que o Bolsa Família é apenas uma das políticas que se fazem necessárias no sentido de promover a reinserção social da população em situação de rua. Cabe aos Estados e municípios, implementarem políticas complementares, para oportunizar essa reinserção. Lamentavelmente, o que temos visto em Florianópolis e em Santa Catarina, é o uso da violência cotidiana e o desmonte de políticas como o restaurante Popular. Além disso, temos observado sucessivos escândalos de corrupção envolvendo a pasta da Assistência Social na capital. Apresentamos, inclusive, um pedido de CPI na Câmara Municipal, para investigar os contratos da Secretaria. O fato de as pessoas no vídeo afirmarem ter passagem pela polícia, não significa que elas estejam em débito com a justiça. Eu acredito na possibilidade de ressocialização das pessoas que deixam o sistema prisional, contudo, esse processo se dará mediante a não estigmatização, além de oportunidades de qualificação, emprego e renda, para que essas pessoas possam de fato construírem um futuro de dignidade.
O episódio revela que, enquanto parte das lideranças políticas defende mudanças na abordagem e no controle de benefícios, outra parte enfatiza a ampliação de políticas públicas e a preservação de direitos, apontando caminhos distintos para enfrentar a complexa realidade das pessoas em situação de rua em Florianópolis.
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